UNATI.UERJ: UMA PROPOSTA DE EDUCAÇÃO PERMANENTE PARA O CIDADÃO IDOSO

Marcos Fernando Martins Teodoro
Esta investigação buscou repensar as inúmeras questões relacionadas à velhice na atualidade, identificando o grau de importância que tem hoje os projetos educacionais destinados aos cidadãos da terceira idade. O foco desta análise incidiu sobre o discurso e as práticas educacionais desenvolvidas no universo de uma Instituição voltada para a terceira idade: a Universidade Aberta da Terceira Idade da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UnATI/UERJ. No universo investigado privilegiei as expressões de subjetividade através do qual as experiências individuais de envelhecimento podem ser partilhadas. Busquei compreender os vários significados que tem a velhice para o idoso que vivencia estes projetos de educação na UnATI/UERJ e as possíveis transformações que estaria ocorrendo na vida destas pessoas. Com este objetivo, através de uma ampla observação do cotidiano de alguns idosos que freqüentam a UnATI/UERJ tive como discussão a reconstrução da história pessoal destes cidadãos, suas visões de mundo, a maneira como interpretam questões relacionadas a infância, família, casamento, solidão, memória, atualização. Portanto, busquei perceber o bom resultado que existe na prática da educação permanente em uma Universidade Aberta da Terceira Idade como alternativa de superação de uma gama de preconceitos, dificuldades e limitações que alguns cidadãos carregam ao tornarem-se idosos, já que inseridos nestes projetos eles passam a ser os verdadeiros protagonistas de suas histórias de vida.

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Caderno Temático

UNATI.UERJ: UMA PROPOSTA DE EDUCAÇÃO PERMANENTE PARA O CIDADÃO IDOSO

UNATI.UERJ: A PROPOSAL OF PERMANENT EDUCATION FOR THE ELDERY CITIZEN

UNATI.UERJ: UNA PROPUESTA DE EDUCACIÓN PERMANENTE PARA EL CIUDADANO ADULTO MAYOR

Marcos Fernando Martins Teodoro
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil

UNATI.UERJ: UMA PROPOSTA DE EDUCAÇÃO PERMANENTE PARA O CIDADÃO IDOSO

Olhar de Professor, vol. 19, núm. 2, 2016

Universidade Estadual de Ponta Grossa

Recepção: 10 Agosto 2016

Aprovação: 10 Novembro 2016

Resumo: Esta investigação buscou repensar as inúmeras questões relacionadas à velhice na atualidade, identificando o grau de importância que tem hoje os projetos educacionais destinados aos cidadãos da terceira idade. O foco desta análise incidiu sobre o discurso e as práticas educacionais desenvolvidas no universo de uma Instituição voltada para a terceira idade: a Universidade Aberta da Terceira Idade da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UnATI/UERJ. No universo investigado privilegiei as expressões de subjetividade através do qual as experiências individuais de envelhecimento podem ser partilhadas. Busquei compreender os vários significados que tem a velhice para o idoso que vivencia estes projetos de educação na UnATI/UERJ e as possíveis transformações que estaria ocorrendo na vida destas pessoas. Com este objetivo, através de uma ampla observação do cotidiano de alguns idosos que freqüentam a UnATI/UERJ tive como discussão a reconstrução da história pessoal destes cidadãos, suas visões de mundo, a maneira como interpretam questões relacionadas a infância, família, casamento, solidão, memória, atualização. Portanto, busquei perceber o bom resultado que existe na prática da educação permanente em uma Universidade Aberta da Terceira Idade como alternativa de superação de uma gama de preconceitos, dificuldades e limitações que alguns cidadãos carregam ao tornarem-se idosos, já que inseridos nestes projetos eles passam a ser os verdadeiros protagonistas de suas histórias de vida.

Palavras-chave: Educação, Universidade, Envelhecimento.

Abstract: This research sought to rethink the numerous issues related to old age at the present time, identifying the degree of importance that has the educational projects for the elderly citizens. The focus of this analysis focused on the speech and educational practices developed in the universe of an institution directed to the elderly: the Open University of the Third Age of the University of the State of Rio de Janeiro - UnATI / UERJ. In the investigated universe, I have privileged the expressions of subjectivity through which individual experiences of aging can be shared. I sought to understand the various meanings that old age has for the elderly who experience these educational projects in UnATI / UERJ and the possible transformations that would be occurring in these people lives. With this goal, through a wide observation of the daily life of some elderly people who attend UnATI / UERJ, I had as a discussion the reconstruction of the personal history of these citizens, their visions of the world, the way they interpret issues related to childhood, family, marriage, loneliness, memory, update. Therefore, I sought to perceive the good result that exists in the practice of permanent education in a Open University of the Third Age as an alternative to overcome a range of prejudices, difficulties and limitations that some citizens carry when they become old, since inserted in these projects they become the real protagonists of their life stories.

Keywords: Education, University, Aging.

Resumen: Este estudio tuvo como objetivo replantear las numerosas cuestiones relacionadas con la vejez hoy, identificando el grado de importancia de los proyectos educativos de hoy dirigidos a la tercera edad. El enfoque de este análisis se centró en el discurso y las prácticas educativas en el universo de una institución dedicada a las personas mayores: la Universidad Abierta de la Tercera Edad de la Universidad del Estado de Río de Janeiro – UnATI/UERJ. En el universo investigado privilegié las expresiones de la subjetividad a través de las cuales los experimentos de envejecimiento individuales se pueden compartir. Traté de comprender los diversos significados que tiene la edad para las personas mayores que transitan por estos proyectos de educación en la UnATI/UERJ y los posibles cambios que se están produciendo en la vida de estas personas. Con este fin, a través de una extensa observación de la vida cotidiana de algunos adultos mayores que concurren a la UnATI/UERJ tuve que discutir la reconstrucción de la historia personal de estas personas, su visión del mundo, la forma en que interpretan temas relacionados con la infancia, la familia, el matrimonio, la soledad, ampliación de memoria. Busqué captar los buenos resultados que existen en la práctica del aprendizaje permanente en una Universidad Abierta de la Tercera Edad como una alternativa para superar una serie de prejuicios, dificultades y limitaciones que algunos ciudadanos cargan al volverse personas de edad avanzada, ya que al insertarse en estos proyectos ellos pasan a convertirse en los verdaderos protagonistas de sus historias de vida.

Palabras clave: :Educación, Universidad, Envejecimiento.

Introdução

Mais do que qualquer outra época, o século XX caracterizou-se pelo crescente aumento do tempo de vida da população. A partir dos anos 80 se verifica uma transformação substancial na estrutura demográfica brasileira, principalmente devido aos níveis decrescentes das taxas de fecundidade, o que tem determinado um processo geral de envelhecimento da população brasileira.

A esperança de vida cresceu, segundo o IBGE (2015) cerca de 33 anos neste último século, provocando uma intensa demanda por estudos e análises para a definição de políticas públicas de prevenção de saúde no envelhecimento.

Para Veras (2002) este é um fenômeno global, com tendência a se agravar, na medida em que a rápida diminuição das taxas de natalidade registradas nos últimos anos, na maioria dos países, indica um aumento ainda maior na expectativa de vida.

Esta equação demográfica passa a ser entendida da seguinte forma: quanto menor o número de jovens e maior o número de adultos atingindo mais de 60 anos, mais rápido é o desenvolvimento populacional dos cidadãos da terceira idade.

Essa maior expectativa de vida se fez acompanhar de uma melhora substancial dos parâmetros de saúde das populações, embora estes avanços ainda estejam muito longe de se distribuírem de forma igual nos diferentes contextos socioeconômicos dos países.

O cenário que começa a se formar é de profundas transformações sociais. Não só pelo maior número de idosos na sociedade, mas também pelos avanços tecnológicos e científicos, onde se estima que os seres humanos possam alcançar de 110 a 120 anos, com a expectativa de vida atingindo o limite biológico máximo ainda neste século.

Estas mudanças exigem a busca de modelos inovadores que garantam a qualidade de vida para este contingente populacional. Programas exemplares, governamentais e não governamentais, públicos e privados, projetos de iniciativa individual ou coletiva, enfim, modelos que tenham como foco a qualidade de vida para a pessoa idosa.

No Brasil o crescente número de idosos tem imposto desafios para toda a sociedade, e o envelhecimento humano já é reconhecido como uma importante questão social e política. A crença de que o Brasil ainda é um país jovem muito tem contribuído para atribuir-se exclusivamente à família, o papel de amparar os seus idosos, deixando-se a política social à margem do atendimento à velhice.

A globalização trouxe o avanço da tecnologia, mas ainda há grande dificuldade no acesso às novas técnicas, especialmente para os idosos. O mundo tecnológico e o não acesso a esses bens os remete à exclusão e ao isolamento social, o que gera barreiras sócio-culturais, dificultando a sua conexão com as novas informações de um universo social que o exclui, levando-o, muita das vezes, a depressão.

Para Palma (2000) muito deste sentimento de depressão vem das dificuldades decorrentes das novas normas da sociedade contemporânea, que vem oferecendo ambientes de vida mais diversificados e sofisticados, exigindo do idoso um conhecimento dessa realidade para que possa se adaptar enquanto cidadão.

Segundo a autora, o mundo social se constitui de acordo com os interesses políticos e econômicos, e esses repercutem, entre outros referenciais, na educação, principalmente naquela voltada para a terceira idade, que pressupõe:

1. Conhecer e aprender cultura geral que constitui uma espécie de passaporte para a Educação Permanente, na medida em que fornece as bases e o gosto para a aprendizagem ao longo de toda a vida;

2. Aprender e fazer, competências e qualificações mais amplas que preparem o indivíduo para enfrentar inúmeras situações;

3. Aprender a viver junto, desenvolvendo a compreensão do outro e a percepção da interdependência, realizando projetos e preparando-se para gerir conflitos, no respeito pelos valores do pluralismo, da compreensão mútua e da paz; e

4. Aprender a ser, processo que começa a se conhecer a si próprio numa espécie de viagem interior guiada pelo conhecimento, pela meditação e pelo exercício da autocrítica e da cidadania. (PALMA, 2000, p. 51).

O número de idosos não alfabetizados no nosso país, segundo o IBGE (2015), é muito grande e implica em sérios problemas, pois a maioria destes cidadãos, de baixo poder aquisitivo, encontram-se em estado de completa pobreza, sofrendo até humilhações por não saber ler e muito menos escrever o próprio nome, com dificuldades de identificar ônibus, produtos, cartazes. Estes cidadãos da terceira idade são ainda mais discriminados pela sua condição de analfabetos.

Alcançar o status de alfabetizados poderá criar uma gama de oportunidades para essa população carente, possibilitando um grande impulso em direção à sua emancipação e inclusão na sociedade, e legitimando significativamente, uma melhor qualidade de vida.

Para estimular a aprendizagem ao longo da vida é fundamental resgatar as potencialidades que esses idosos têm para aprender, criando oportunidades nas quais possam colocar em prática não só os conhecimentos adquiridos, mas novos conhecimentos.

O argumento que movimentou esta investigação está centrado em demonstrar que a velhice é vivida através de códigos: de comportamento, de expressões corporais e, sobretudo, de expressões de subjetividade, através do qual as experiências individuais de envelhecimento podem ser compartilhadas e negociadas em um contexto marcado pelo surgimento de um novo discurso científico sobre a velhice e o envelhecimento, e por mudanças na forma como indivíduos, ao envelhecer, negociam com as imagens estereotipadas da velhice.

Foi neste contexto que me propus a analisar projetos educacionais que envolvam um processo de ensino-aprendizagem voltado para o cidadão idoso, nas Universidades Abertas da Terceira Idade, Centros de Convivência, Instituições Educacionais para Idosos e em espaços assemelhados.

Busquei refletir, o que leva esse cidadão da terceira idade a voltar, ou mesmo estar pela primeira vez, nos bancos escolares, buscando na educação atividades que possam estar melhorando a sua qualidade de vida e as suas potencialidades.

O foco da análise incidiu sobre o discurso e as práticas educacionais desenvolvidas no universo de uma Instituição voltada para a terceira idade — a Universidade Aberta da Terceira Idade da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UnATI.Uerj privilegiando a observação de relações que se estabelecem entre pessoas idosas e a produção de discursos sobre a velhice e o envelhecimento.

Segundo Veras (2002) hoje os programas voltados para a terceira idade, oferecidos pelas universidades abertas para a terceira idade, se constituem em exemplos da possibilidade de um idoso mais atuante, ativo e independente.

Portanto, qual o significado de projetos de educação na terceira idade para a reconstrução da memória individual da pessoa idosa? Especificamente, o ingresso de muitos idosos no projeto de educação permanente da UnATI.Uerj tem despertado neles satisfação, auto-estima, senso de controle pessoal, e um repensar das suas histórias de vida.

Idosos na modernidade – o processo de envelhecimento

A velhice se apresenta como uma esfinge para nosso final de século. Quanto mais rapidamente se dá o avanço da longevidade, e o desenvolvimento de estudos e pesquisas específicas sobre os fundamentos biopsicossociais do processo de envelhecimento, tanto maiores tornam-se nossas interrogações sobre as condições de sociabilidade da “última etapa da vida”.

Desde o final do século XX, estamos atravessando um período de profundas transformações sociais e econômicas que incidem diretamente sobre os indivíduos, as relações pessoais e a cultural. Esse período é confuso por que nem sempre é possível uma distinção entre o velho e o novo na realidade social, já que mudanças não ocorrem simultaneamente em todos os níveis.

Este processo híbrido e de transição tem recebido inúmeras denominações: sociedade da informação, sociedade pós-industrial, sociedade pós-moderna entre outras. Segundo Rosa (2004) a expressão “modernismo” não surgiu nos grandes círculos culturais do mundo anglo-saxônico, ao contrário do que poderia parecer.

O termo modernismo foi criado na América hispânica no final do século XIX para designar uma corrente literária que se opunha à influência cultural da Espanha, e ela acrescenta: “O dinamismo da modernidade encontra-se na apropriação reflexiva do conhecimento, em que a própria produção de conhecimento sistemático torna-se integrante da reprodução do sistema, deslocando a vida social para fora de padrões relacionados à tradição.” (ROSA, 2004, p. 24).

A discussão em pauta não é, apenas, se estamos além da modernidade ou se as transformações atuais são meras conseqüências dela. Seja o que for às questões relativas ao envelhecimento humano devem ser analisados enquanto desafios aqui e agora.

Alexandre Kalache (2009) em conferência durante o Congresso Internacional de Geriatria e Gerontologia, afirma que:

O fato de a humanidade ter acrescentado 29 anos a sua expectativa de vida é a maior conquista do século XX e grande desafio do século XXI, assim as sociedades ditas modernas terão de se preparar em várias frentes para um mundo que, em 2050, terá o mesmo número de idosos e de jovens. (KALACHE, 2009, n.p.).

A velhice se manifesta por um processo com múltiplas facetas. Este processo, apesar de evidenciar-se primariamente como conseqüência de modificações biológicas do organismo, reflete-se sobre outras dimensões vivenciadas das pessoas, variando entre elas, sua intensidade e significação.

O crescimento do contingente de idosos, ensejado pela queda de fecundidade e pela extensão da esperança de vida propiciadas pelos avanços da ciência moderna, através da medicina e da saúde pública, vem determinando um maior interesse sobre este tema.

Kalache (2009) menciona que no processo de vida do ser humano, o envelhecimento é uma etapa natural que acontece em qualquer sociedade, mas é muito importante que se almeje uma melhoria na qualidade de vida em todas essas etapas, incluindo o processo de envelhecer, no qual a manutenção e independência são tarefas complexas que resultam em conquista social.

O autor afirma ainda que as várias teorias que tentam explicar o processo de envelhecimento baseiam-se nos estudos de seus efeitos, não explicando exatamente suas causas. É possível que se consiga precisar melhor a causa a partir da contribuição interativa entre várias teorias, incluindo algumas até pouco conhecidas, ou ainda aquelas que estão por serem descobertas.

A única certeza é a de que, no momento em que a evolução biológica deixa de ser progressiva e começa a regredir, se inicia o envelhecimento, transformando gradativamente pessoas adultas em indivíduos frágeis, com certo grau de vulnerabilidade. Segundo ele:

É preciso considerar que o desenvolvimento do ser humano é constantemente marcado pela busca de um equilíbrio em todos os aspectos de sua vida. Esta, ao longo do tempo, vai apresentando desafios, mudanças, crises que alteram a sua estabilidade e propiciam um estado dinâmico de permanente estruturação, desestruturação e reestruturação. Ao envelhecer, os mecanismos que favoreciam a adaptação a tais modificações vão sofrendo um desgaste natural, fato que passa a promover uma diminuição na capacidade de reação a novas situações. (KALACHE, 2009, n.p.).

Neste sentido um dos aspectos a ser examinado seria a relação que o idoso estabelece com o fator tempo, na medida em que existe uma tendência à perda de perspectivas para o futuro, tornando o momento presente pouco estimulante e, conseqüentemente, supervalorizando o passado.

As perdas sociais, geradas por este sentimento, repercutem no estado de ânimo daquele que vive esta etapa. Alguns apresentam comportamento de isolamento, de alheamento ao que ocorre à sua volta, abdicado de seus mais elementares direitos. Por outro lado, há os que não se entregam às situações de solidão, depressão, problemas econômicos, memória, violência, perda de visão, de audição, e do próprio medo da morte, e tentam dar prosseguimento a sua vida com estabilidade emocional.

Alguns, como Dona Jordelina, de 80 anos, aluna da Oficina da Memória (2015), reconhecem suas limitações e tentam minimizá-las:

Acho que a minha falta de memória é devido a minha dificuldade na audição, pelo menos é o que o médico tem dito, mas eu acho que é bobagem dele, esqueço por que estou velha mesmo, tenho 80 anos e como não quero sofrer de solidão vim aqui para UnATi e hoje estou aqui fazendo a Oficina da Memória com vocês [...] (JORDELINA, 2015, n.p.).

Quando existe a diminuição de contatos sociais, o universo do idoso se reduz, e este fato repercute em sentimento de solidão. É o que nos diz Kalache:

Entende-se que a solidão na velhice é enfrentada de modo distinto, na dependência dos ajustamentos prévios e das várias circunstâncias existenciais de cada indivíduo. Se um indivíduo sempre desfrutou da companhia afetiva de outras pessoas, o viver sozinho representará um problema da maior magnitude que quase sempre conduz à depressão e esta poderá, com certeza, contribuir para acelerar o processo do envelhecimento. (KALACHE, 2009, n.p.).

Portanto, tendo em vista que a perda de um lugar social valorizado como produtivo leva o idoso a um maior isolamento, concluo que a tendência em supervalorizar e manter a memória ativa ligada a fatos passados, talvez seja a forma que muitos idosos encontram para combater os sentimentos de fragilidade, baixa estima, desamparo e solidão.

Velho, idoso ou terceira idade – as redefinições da velhice

Os valores culturais e as tradições determinam como a sociedade representa as pessoas idosas e o processo de envelhecimento. Clarice Ehlers questiona:

Que é, pois ser velho na sociedade capitalista? É sobreviver! Sem projeto, impedido de lembrar e de ensinar, sofrendo as adversidades de um corpo que se desagrega a medida que a memória vai-se tornando cada vez mais viva, a velhice, que não existe para si, mas somente para o outro. E este outro é um opressor. (EHLERS,1998, p.31).

Esta representação social recebe as denominações de velho, idoso e terceira idade. Traçando uma trajetória desses termos, conceitos ou noções vinculadas ao processo do envelhecimento, temos a França do século XIX como o primeiro país que passou a dar um tratamento social à velhice ao distinguir os velhos dos mendigos internados nos “depósitos de velhos” e nos asilos públicos.

A maior parte das pesquisas francesas dessa época descreve as condições miseráveis do velho trabalhador. No final do século XIX, mais da metade da população urbana de 60 anos ou mais não possuía pensão nem salário, a maioria dependia dos filhos ou das instituições de assistência pública.

A noção de velho tem, geralmente, conotações negativas. Reforça uma situação de exclusão social e é fortemente assimilada à decadência e confundida como incapacidade para o trabalho. Peixoto (2004) afirma que a partir dos anos 60 começa a surgir uma nova política social para as questões relacionadas à velhice como conseqüência de mudanças na estrutura social:

[...] a elevação das pensões faz aumentar o prestígio dos aposentados. Observa-se uma transformação nos termos de tratamento, bem como outra percepção das pessoas envelhecidas. Tornados pejorativos, certos vocábulos são suprimidos dos textos oficiais, principalmente dos títulos das comissões governamentais de estudos sobre a velhice. (PEIXOTO, 2004, p.73).

A introdução do termo idoso, menos estereotipada foi bastante criticada por alguns especialistas sobre o tema. Stano (2001) afirma que a noção de idoso não é tão precisa quanto velho, mesmo que seja mais respeitosa. Outros analistas afirmam que esta noção tem um contorno impreciso, uma vez que abarca diversas realidades.

Se é verdade que os velhos se tornaram pessoas mais respeitadas através da implementação do termo idoso, este passa a ser mais valorizado com a criação da categoria aposentado, que através de instrumentos legais vem introduzir melhorias nas condições de vida das pessoas envelhecidas, legitimando o direito à cidadania, embora traga, como contrapartida, o sentimento de inatividade e de inutilidade pela interrupção da atividade economicamente produtiva.

Sentimento que pode ser revertido, conforme mostra o depoimento de Dona Neusa, 75 anos aluna da Oficina de Orientação Postural:

É eu também depois que me aposentei não sabia o que ia fazer, pois trabalhei muito tempo no antigo BANERJ, sempre fui muito ativa, mas depois que me aposentei amarguei 2 anos sem uma perspectiva de vida, mas hoje também estou bem melhor, já tenho 4 anos aqui na Unati, 4 anos com muito mais qualidade de vida [...] (NEUSA, 2015, n.p.).

A aposentadoria é um marco na vida do trabalhador e muito se discute sobre o seu significado para o indivíduo que envelhece. Para Stano (2001) aposentar-se pode ser bom ou mau em função de variáveis relacionadas ao tipo de trabalho (desgaste físico e mental, interesse pela atividade, satisfação profissional, remuneração, rede de amizades), bem com à vida do indivíduo de modo geral (saúde, segurança econômica, projetos futuros).

A preocupação quanto aos efeitos negativos da aposentadoria no curso de vida tem se baseado num tipo de reação relativamente comum, descrita em muitos estudos. Enquanto sofre pressões do mundo do trabalho (horário, ritmo da jornada, produtividade, etc.) é comum se almejar a aposentadoria como libertação e recompensa pelo esforço de anos dedicados à profissão.

Entretanto, quando se concretiza a saída do mercado de trabalho, o indivíduo tende a reduzir os seus contatos sociais e corre o risco de mergulhar no vazio, pelos efeitos de empobrecimento, baixa auto-estima e a desqualificação que se faz acompanhar.

Esta realidade só se apresenta na sua “dura realidade” a posteriori, como relata Dona Mirna, 67 anos, aluna da Oficina de Informática:

A gente quando está novo deveria pensar na aposentaria, em todos os aspectos, pois quando ficamos velhos e olhamos para trás é que vemos que deveríamos ter nos estruturado para quando esta hora chegar [...] (MIRNA, 2015, n.p.).

Infelizmente, o indivíduo aposentado é, muitas vezes marginalizado e excluído como incapaz, por não exercer atividade profissional regular. Alguns, recém-saídos do seu ambiente de trabalho, conseguem transferir seus interesses para um espaço privado, o ambiente familiar e doméstico vivenciando uma nova etapa da vida, saboreando-a com determinação, sem dar tanta importância às marcas que o preconceito social produz.

A respeito do aposentado, diz Barros:

A imagem do aposentado aponta os estereótipos da caduquice e da apatia; a ênfase no passado de trabalhador, como contraponto ao estereotipo do “velho que só pensa em comer, dormir, reclamar e dar palpite”; e mais importante talvez, a ênfase na condição de provedor e arrimo de família, em oposição à imagem do velho como um peso para os filhos e parentes mais jovens. (BARROS, 1998, p. 20).

O termo terceira idade surge como sinônimo de envelhecimento mais independente e ativo, onde as pessoas com 60 anos ou mais começam a encarar uma nova etapa da vida, onde ociosidade transforma-se em dinamismo. A autogestão e a integração passam a ser as palavras-chave desta nova definição de envelhecimento saudável, onde uma gama de novos produtos, serviços e equipamentos surgem para promover a sociabilidade destes cidadãos.

Logo, o indivíduo pode facilmente ler em seu corpo os sinais do tempo, mas a partir de agora de forma bem diferente na medida em que não fica tão difícil manipular ou até mesmo negar a velhice, apagando seus sinais mais facilmente reconhecíveis, tanto em sua dimensão corporal, quanto em sua dimensão subjetiva. Portanto, pretendi esclarecer a formulação dos novos termos, conceitos ou noções vinculados ao processo do envelhecimento, buscando entender um pouco as nuances das representações sociais da velhice.

Uma abordagem teórico-metodológica da educação permanente para a terceira idade

A preocupação com a qualidade e intencionalidade da educação, no intuito de modificar o pensamento do homem para garantir sua sobrevivência, de maneira digna, participante e incluído na sociedade, é foco de atenção de inúmeros especialistas do campo da educação. A situação da educação é um dos indicadores primordiais na caracterização do perfil socioeconômico da nossa população, e no caso da população idosa o indicador de alfabetização é considerado um termômetro das políticas educacionais brasileiras.

A partir dos anos 90, a educação básica torna-se uma exigência nacional, requerida como condição mínima à nova realidade social e do trabalho, para toda a população e não apenas para a parcela considerada economicamente ativa, conforme os padrões tradicionais anteriores.

Iniciam-se assim em alguns estados brasileiros, programas educacionais para atender a população de jovens e adultos, programas estes que visavam exclusivamente à erradicação do analfabetismo, criando oportunidade educacional para homens e mulheres com mais de 14 anos. Dois pontos chamam a atenção na análise da população idosa alfabetizada: a população masculina é mais alfabetizada que a feminina, independentemente da idade, e a população jovem é mais alfabetizada do que a população idosa.

Para Both (1999) o processo de alfabetização possibilita ao indivíduo o acesso à aquisição de conhecimentos necessários a sua inserção social, tornando-o um sujeito ativo e autônomo em relação à realidade em que está inserido. E porque não inserir o cidadão idoso neste processo, já que a longevidade vem contribuindo progressivamente para o aumento de idosos na nossa população?

Agostinho Both observa que:

[...] o educador não pode se furtar a conhecer as peculiaridades do ciclo de vida longevo. Ele pode proporcionar ao idoso um ensino adequado as suas necessidades e interesses, integrando no seu projeto educativo todas as virtudes direcionadas a longevidade, promovendo, assim, dentre outros aspectos educativos, uma vida saudável e agradável ao educando. (BOTH, 1999, p. 32).

O aluno desta faixa etária, em processo de alfabetização, passa a desenvolver melhor sua capacidade de organizar o seu pensamento e compreender seu espaço vivencial, as situações de seu mundo e a sua relação com a coletividade, ampliando assim seus conhecimentos e sentindo-se cada vez mais seguro na vida em sociedade. Atingir o status de alfabetizado proporciona ao idoso uma grande oportunidade para a sua inclusão e emancipação, em relação à sociedade, legitimando-lhe melhores oportunidades na vida.

Assim, penso a educação permanente como possibilidade de atender e apoiar o idoso a ser seu próprio intérprete, a manter a sua capacidade de reflexão, de fazer e decidir por si próprio, com independência e autonomia. E neste sentido Furter observa que:

[...] não se pode apresentar a Educação Permanente como se fosse uma nova filosofia da educação, uma doutrina pedagógica ou um sistema de formação totalmente elaborado. No momento é um conjunto, é sobretudo um conjunto de preocupações, de certo convergentes, mas que necessitam de uma aprofundamento que leve em conta o desenvolvimento em geral e o desenvolvimento cultural em particular. (FURTER, 1975, p. 105).

Como sugere a própria terminologia empregada: “educação permanente” (“educação contínua”, ou “ininterrupta”, “continuing education”, “life-longa education”) fundamenta-se, segundo Furter (1975), numa interpretação da educação como um processo que deve prolongar-se durante a vida adulta.

O autor define a educação permanente como sendo um processo contínuo do desenvolvimento individual, que tem como objetivo principal permitir que cada indivíduo continue a progredir, segundo as próprias necessidades e as condições em que vive. E diz ainda que: “A Educação Permanente é um princípio de organização formal de um sistema global de formação, que exerce uma ação renovadora sobre todos os organismos que se ocupam de formação: procurar tornar o sistema escolar um conjunto mais flexível e mais amplo.” (FURTER, 1975, p. 114).

O fato é que não basta mais alocar novos elementos aos programas tradicionais, o que se espera sim é a possibilidade de tornar a vida humana um processo permanente de formação em que o homem, ao se desenvolver continuamente, vai tomando cada vez mais consciência das suas possibilidades de participação como criador, produtor e consumidor de cultura.

Por esse motivo, é importante uma reflexão sobre a dimensão da educação permanente para o segmento idoso. É imprescindível dar novo valor à dimensão ética e cultural da educação. É necessário caminhar para uma sociedade educativa sem esquecer do grande potencial dos modernos meios de comunicação. Os indivíduos devem utilizar todas as suas possibilidades de aprender e de se aperfeiçoar.

Segundo Furter (1975) a nova interpretação da educação, proposta pelos teóricos da educação permanente, abriu perspectivas para a apreensão da correlação íntima que existe entre o desenvolvimento geral e o desenvolvimento individual. A educação, qualquer que seja seu nível ou forma, não pode, limitar-se a transmitir o que se chama, significativamente, de cultura mínima; deve sim ser um conjunto de ações que crie condições para que cada indivíduo descubra o desejo de aprender a participar e a contribuir para o desenvolvimento cultural.

A educação deve permitir uma leitura crítica do mundo, deve ser facilitada pelo educador por intermédio de uma ação libertadora. Essa ação começa com a aproximação de pessoas que estão vivenciando situações existenciais semelhantes, como ocorreu nos “Círculos de Cultura”, onde grupos de pessoas se encontravam para discutir sobre seu trabalho, sua realidade.

Para Furter (1975) a educação deveria definir-se como um processo e não como um bem; um processo de transformação graças ao qual o homem se desenvolve, informando-se e reformando-se; informando e reformando os outros e o meio em que vive.

Os currículos, a aposentadoria, as leis para os idosos, os programas de saúde, a oportunidade de educação permanente, o lazer comunitário não podem permanecer os mesmos, uma vez que os clientes sociais passam a apresentar novas demandas.

A ação de educar, ou de educar-se, era centrada principalmente nos anos ditos formativos, da infância à adolescência. Mas para Cunha (1980) a essência da educação permanente reside no postulado que todo o indivíduo é um ser inacabado, em constante transformação e reformulação, parte integrante de uma sociedade em mudança, da qual é ao mesmo tempo fator e produto.

A educação permanente passa a ser entendida, hoje, como um processo que não se conclui nunca, estendendo-se por toda a vida dos sujeitos. Significa dar oportunidade de aprendizagens contínuas, objetivando a atualização do ser humano, atendendo suas necessidades de interação e aprimoramento do saber.

A educação permanente é um dos temas que por sua relevância e alcance no mundo contemporâneo tem motivado a atenção de estudiosos, em particular de educadores no nosso país. Segundo Cunha a:

[...] implantação da Educação Permanente no Brasil vem em decorrência do disposto na alínea B do artigo 24 da Lei 5692/71. Constituí-se, doutrinariamente na função do Ensino Supletivo denominado Suprimento. Atende esta função a um imperativo de atualização de conhecimentos, que se torna premente no mundo moderno. Face à complexidade das formas de vida e de trabalho e às sucessivas mudanças que se operam no cenário cotidiano, exige-se de todo cidadão uma constante atualização em repetida volta à escola, não à tradicional, mas à inteiramente aberta, em que já se vislumbra a própria educação do futuro. (CUNHA,1980, p. 28).

A educação permanente é baseada na noção de um currículo flexível, organizado para atender a mudanças de interesses e necessidades de qualquer tipo de clientela, como no caso das UnATIs, que oferece oportunidades de entrada e saída, em diferentes momentos, com menos ênfase em certificados, como pré-requisitos para a participação nas atividades.

Na ótica da educação permanente, professor e aluno encontram-se ambos em processo de maturação e aprendizagem constantes; o professor em muitos aspectos num processo mais adiantado, é verdade, mas sempre com possibilidades de aprender cada vez mais. Neste contexto Furter acrescenta que:

Não existe e não deve existir uma educação permanente que forme ramificações, um setor ou um campo específico da educação. A verdadeira educação permanente nada mais é que uma modificação completa, uma reestruturação de todo o sistema educacional. (FURTER, 1975, p.140).

Entendo que em se tratando de uma educação para a terceira idade, se deve estabelecer um ensino mútuo de troca de experiências entre professores e alunos e alunos e alunos. Muitas das vezes esses sujeitos possuem uma experiência de vida em determinados assuntos que só vem a possibilitar relações generosas com os outros e com o ambiente que o cerca.

A educação do futuro terá lugar também fora do horário escolar, em local e hora da própria escolha do indivíduo. Para Cunha (1980) os novos currículos devem promover oportunidades para estes novos sujeitos que estão voltando às salas de aula, dando-lhes meios para que possam ouvir observar, ler, expressar-se e adquirir técnicas para obter informações e criar novas idéias e soluções para os seus problemas.

Esta metodologia que privilegia não só o saber elaborado, mas também os seus momentos de construção, resgate de histórias de vida e contatos com outras gerações promove trocas de conhecimentos significativos. “O educador e o educando, a partir desta realidade, constroem e descontroem em comunhão novos saberes, reordenam os antigos conhecimentos e resignificam os saberes atuais.” (CUNHA, 1980).

Portanto, concluo que a educação é permanente porque o homem não acaba nunca de amadurecer, qualquer que seja a idade, o sexo e a situação sócio-econômica. É neste contexto, que as universidades abertas para a terceira idade almejam o status de uma revolução pedagógica voltada para a educação permanente para a terceira idade, oferecendo a estes novos alunos a oportunidade de continuar a sua educação em um espaço de trocas que levam a reeducação, a democratização, a transformação, e a sua inserção às novas perspectivas da vida contemporânea.

Unati/Uerj: 22 anos de juventude de uma senhora universidade

Os programas, hoje oferecidos pelas UnATIs, são dedicados à reformulação de padrões tradicionais do envelhecimento, na medida em que vivenciam em ambiente de ensino, de forma coletiva, uma melhora na qualidade de vida do cidadão idoso. Esta ação educativa privilegia a dinâmica da sociedade, que produz a renovação de valores, atualizando e reciclando culturalmente os idosos, colocando-os em sintonia com o mundo contemporâneo.

Segundo Veras (1995) a Universidade Aberta vem oferecendo programas educativos que possibilitem a sua clientela ampliar seus conhecimentos e seu círculo de amizades, passando a significar para alguns uma oportunidade sem igual para reencontro e redescoberta de seu potencial, sendo assim valorizados como cidadãos ativos e participantes da sociedade.

Um destes programas vem sendo desenvolvidos pela Universidade Aberta Para a Terceira Idade da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UnATI.Uerj, onde possivelmente uma das maiores qualidades deste trabalho esteja centrado nos novos paradigmas que envolvam a dimensão e a complexidade do que hoje representa o envelhecimento humano no nosso país.

Pelo fato de se localizar no interior de uma grande universidade pública este modelo possibilita o convívio entre distintas gerações, como estratégia de se reduzir à discrepância entre preconceitos e uma série de valores. A enorme gama de cursos e atividades nas mais variadas áreas do conhecimento, as estruturas de apoio como bibliotecas, laboratórios e, ainda, as tecnologias inovadoras desenvolvidas em uma universidade foram agregadas ao projeto como suporte para a transmissão de novos e qualificados conhecimentos em diferentes áreas, para os estudantes com mais de 60 anos.

A UnATI.Uerj privilegia o coletivo, acreditando que os fatores causais determinantes da saúde e da doença, assim como do bem-estar geral, incorporam dimensões sociais. Segundo Veras (1995), outra: “[...] singularidade da perspectiva que orienta a concepção da UnATI/UERJ é que, devido à sua origem acadêmica, entende que as UNATIs devam ser um fórum para a produção de conhecimento e pesquisa.” (VERAS, 1995, p. 54).

Criada no dia 23 de Agosto de 1993 através da Resolução Nª02/1994 como um Núcleo de Ensino, Extensão e Pesquisa Subordinada a SubReitoria de Extensão e Cultura da Uerj visa contribuir para a melhoria dos níveis de saúde físico-mental e social das pessoas idosas, utilizando as possibilidades existentes na Instituição Universitária.

Ao mesmo tempo, tem como objetivo contribuir para reduzir o isolamento e solidão dos idosos, e reintegrá-los à sociedade, resgatando sua cidadania e sua participação na produção de novos valores, bem como atuar na redefinição das imagens da velhice e do envelhecimento, e das relações entre as gerações, aproximando-se, com esses objetivos, das propostas mais gerais dos centros de convivência.

O tempo livre, o lazer, a educação, a pesquisa e a socioterapia, entre outras questões recorrentes que envolvem as instituições voltadas para idosos, são destacadas nas propostas da UnATI.Uerj como significativas ou secundárias, de acordo com o contexto em que são acionadas, tendo em vista a imagem com a qual a instituição pretende se apresentar, ou com a qual pretende se contrapor a outras instituições.

Dificuldades teóricas, operacionais e conceituais não faltaram no início do programa da UnATI.Uerj. Foram muitas reuniões, adaptações e alterações a partir do primeiro esboço do projeto, pois não se pretendeu chegar a um modelo definitivo e acabado.

No entanto, hoje, doze anos depois, avaliando por intermédio da participação e dos registros de relatos de alunos idosos, dos trabalhos científicos realizados e de grande aceitação do programa junto a comunidade científica e a sociedade acredita-se que o projeto UnATI.Uerj já se encontra consolidado o suficiente para fomentar um debate qualificado junto a um público bem mais amplo.

Suas atividades educativas e socioculturais para a terceira idade envolvem todo ano a realização de cerca de 60 cursos/oficinas gratuitas, conferências, seminários, fóruns, palestras, workshops, exposições, festas temáticas gerando conhecimento e bem estar a um número cada vez maior de cidadãos da terceira idade que vem procurando este espaço como Centro de Convivência.

Para Veras (2003) todas estas ações aliadas à projetos de educação permanente e continuada permitirão ao idoso a absorção de novos conteúdos e o resgate de sua cidadania, capacitando-o a produzir ações de participação social que contribuam para um novo modo de viver a velhice e um novo olhar da sociedade para o cidadão que envelhece.

Este modelo de Centro de Convivência promove projetos de cursos de extensão e grupos de estudos para professores que ministram as oficinas para os idosos, desenvolvendo também ações de capacitação continuada, direcionadas aos alunos da graduação e pós-graduação da UERJ e de outras universidades, contribuindo assim para o aperfeiçoamento da formação dos jovens estudantes.

A população de idosos, pessoas com mais de 60 anos, a quem se destinam as oficinas correspondem a mais de dois mil inscritos, com freqüência por semestre. Cada aluno pode freqüentar até 03 (três) oficinas por semestre, e as inscrições são feitas, gratuitamente, através de um sorteio ou por ordem de chegada sempre no início de cada semestre.

As oficinas estão divididas em quatro áreas temáticas: Educação para saúde, Arte e cultura, Conhecimentos gerais e Línguas estrangeiras e, Conhecimentos Específicos Sobre a terceira idade não apresentando uma estrutura curricular hierarquizada. O aluno, em princípio, tem liberdade de escolha para freqüentar as oficinas e cursos de sua preferência, dentro do limite possível de vagas.

Atualmente os alunos participam como verdadeiros agentes multiplicadores em apresentações de atividades em outras instituições de ensino, contribuindo para a troca de experiências e vivências entre gerações.

Veras observa que:

O produto final das atividades realizadas com os idosos dá substrato à produção cultural, gerando livros de poesias, memórias de bairros da cidade do Rio de Janeiro, e outros, incentivando estes alunos à produção de conhecimentos e valores deste desenvolvimento social, formando cidadãos politicamente conscientes e valorizados. (VERAS, 2003. p. 97).

Logo, se não há obstáculos teóricos à aprendizagem dos idosos, e se estes podem elaborar projetos de formação compatíveis com as demais faixas etárias, não se justifica a segregação dos idosos nas instituições de formação educacional.

Portanto, as UnATIs e as pesquisas em gerontologia educativa em favor da formação dos idosos são as forças motrizes para uma educação permanente para a terceira idade, mas cabe ressaltar que esta só será possível quando houver uma sociedade verdadeiramente democrática em que o acesso a informação seja compartilhado pelos cidadãos independente da faixa etária em que se situam.

Considerações finais – na buscando superações

Estudar as representações sociais de idosos, em relação ao processo do envelhecimento e a sua participação em atividades, oferecidas por uma Universidade Aberta para a Terceira Idade – UnATI.Uerj, reveste-se de elevado significado para mim como pesquisador e educador.

No desenvolvimento deste trabalho de pesquisa tornou-se claro ser de fundamental importância para o pesquisador sua identificação com o tema a que se propõe desenvolver. Sem dúvida que o caráter metodológico e técnico da pesquisa é imprescindível, mas não se completa, sem que haja interação entre pesquisador e o sujeito ou tema pesquisado.

É óbvio que o tema e a identificação com ele não se esgotam aqui, mesmo porque a questão da velhice, em especial a educação permanente para terceira idade, constitui um campo ainda bastante vasto para ser investigado. Foi pesquisada uma pequena parte do todo, mas outros projetos semelhantes ao projeto de educação permanente, oferecido pela UnATI.Uerj, existentes pelo Brasil e em outros países, permitem concluir que movimentos como esses abrem caminhos e apontam soluções possíveis para o drama da velhice no nosso país.

A experiência da UnATI.Uerj com uma proposta de educação permanente para o cidadão idoso tem sido encorajadora, como se depreende pela própria observação de seus participantes, porém, os diretamente beneficiados ainda são uma fração relativamente restrita dos usuários potenciais.

Obviamente, porém, será preciso trabalhar articuladamente com outras instituições e instâncias da sociedade, buscando formular e desenvolver um processo coletivo de mudanças sociais, em cujo contexto estará situada a reorientação ao tratamento da problemática do idoso.

Como órgão de uma universidade pública, a UnATI.Uerj está pronta para avançar esse processo, gerando conhecimento e treinando recursos humanos para estender os benefícios dessas práticas ao maior número possível de cidadãos da terceira idade.

Portanto, concluo que os desafios serão imensos, mas sua superação é requisito para que saiamos do plano das intenções e alcancemos um consistente e vigoroso encaminhamento de soluções para a plena e justa inserção do idoso na sociedade da qual ele ainda pode muito contribuir.

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